Domingo a SIC transmitiu o programa mais badalado dentro da temática da parentalidade – a Super Nanny. Se concordei com tudo o que foi aplicado no programa? Não, não concordei. Se discordei de tudo? Não, não discordei.
Vamos antes refletir após a Super Nanny?
Ponderei bastante se valeria a pena escrever algo sobre Super Nanny, se poderia contribuir com algo diferente para a discussão de tudo o que tem sido dito e escrito nos últimos dias… Li artigos de facilitadores de parentalidade, pais, educadores, pediatras, psicólogos e bloggers com as suas visões, críticas e comentários até que decidi que não iria escrever mais um artigo com a opinião e crítica à metodologia da Psicóloga ou ao programa em si mas iria sim escrever sobre o que me parece que deveríamos TODOS refletir após a Super Nanny:
- Direitos das crianças: a não discriminação, o interesse superior da criança, a sobrevivência e desenvolvimento, a opinião da criança. Estes são os quatro pilares da Convenção dos Direitos das Crianças. Se o programa foi ao encontro dos mesmos, muito possivelmente não. Mas será que os respeitamos quando partilhamos fotos de crianças com doenças raras, subnutridas, vitimas de violência doméstica ou na escola? Será que respeitamos estes mesmos interesses quando vemos, partilhamos, fazemos “gosto” ou comentamos fotos e vídeos de crianças que aparecem a brincar, a cantar, a dormir, a cair ou no seu dia-a-dia ? Creio que não. É verdade que o programa Super Nanny de domingo poderá ter sido chocante, no entanto, esta é mais uma circunstância como tantas outras em que observamos que a intimidade e as vulnerabilidades das crianças, não são efectivamente respeitadas e tidas em conta. Não poderá servir de desculpa este ponto de vista, até porque não concordo com a exposição da criança neste programa, no entanto, penso que todos temos de pensar muito bem quando apontamos o dedo, uma vez que tantos de nós fazemos igual, mesmo que com boa intenção.
- Regras e Limites: procurei o significado de “regra” no dicionário e dizia algo como “princípio que serve como padrão”. As regras são importantes para manter uma sociedade em ordem, organizada em que todos nos podemos entender, respeitando-nos uns aos outros. O mesmo se aplica às regras e limites no contexto familiar que permitem à criança conhecer e explorar em segurança o mundo à sua volta, aprender a lidar e a gerir a sua irritação, frustração, desenvolver a sua empatia e resiliência contribuindo assim para um sentimento de pertença e também de felicidade (não sou eu que o digo, são os estudos mais recentes). “Regras e limites” terão obrigatoriamente que traduzir rigidez e inflexibilidade autoridade? Não crescemos todos com regras e limites básicos? Não devemos ter regras e limites? Pergunto-me se será assim tão mau que a criança saiba que há horas para comer, brincar, estudar, dormir, tomar banho, que há maneiras de estar e de falar. Regras e limites têm de ser associadas a autoridade extrema ou ditadura? Mais uma vez, não estou a tomar partidos, não estou a defender o programa. Estou, meramente, a tentar que todos pensemos sobre a medida q.b. dos ingredientes para uma educação que conduza ao desenvolvimento da criança. Não nos esqueçamos que regras e limites não implicam que a comunicação, o amor e a flexibilidade não existam!
- Criança como Pessoa: muitos referiram que a criança não se pronunciou sobre qualquer alteração ou sequer sobre as suas próprias emoções ou comportamentos. Ainda bem que falam sobre a importância de ouvir a criança e de falar com a mesma sobre as suas emoções e comportamentos. Quero acreditar que foi um passo que se deu no que consta ao aprendermos, não a ouvir, mas a escutar verdadeiramente as crianças. Elas são, sem sombra de dúvida, Pessoas tal como qualquer adulto. Têm direitos, têm deveres, sentimentos e voz. É importante ensinar-lhes a falar em vez de terem outros comportamentos indesejados, é importante ensinar-lhes que a tristeza, a saudade, a frustração, o medo, o ciúme são sentimentos válidos mas que são possíveis de gerir. Lembrem-se de falar com os vossos filhos. Lembrem-se de os escutar. Escutem-nas a contar as suas histórias do dia-a-dia, a partilhar os seus pensamentos mais ilógicos e inocentes e a desabafar as suas inseguranças e medos. Escutem todas as suas palavras! Elas dirão muito mais do que aquilo que pensam.
- Castigo: um tema controverso, difícil e que, no fundo, nos assusta a todos. Não irei criticar ou comentar a metodologia aplicada no programa Super Nanny, pois quero que o meu papel seja alertar-vos para alguns temas que acredito que precisam e têm de ser cada vez mais esmiuçados. Eu tenho a minha reflexão, no entanto, peço-vos que façam a vossa: será que retirar o brinquedo ou jogo preferido, fará a criança entender o porquê do seu comportamento ter sido inadequado? Ou será que daqui só entenderá que provocar receio ou retirar algo,é a solução quando lhe fizerem algo menos bom? Será uma consequência ou responsabilidade associada ao comportamento desajustado que ajudará a criança a não repetir este comportamento ? Será que a criança entenderá realmente “o que” e o “porquê” de ter feito uma “maldade”, sentada numa cadeira para se acalmar por alguns minutos? Será que a faremos reconhecer que não esteve bem, fazendo-a colocar-se no lugar do outro? Que abordagens vos fazem sentido? Que abordagem vos parece ter um papel mais positivo para o desenvolvimento da criança como pessoa, como ser humano?
Façamos o melhor pela criança
Percamos tempo a refletir sobre o que faríamos, o que nos faz sentido e o que poderá realmente contribuir para o desenvolvimento da criança porque, no fundo, é isso o mais importante: a criança! Se este tema da parentalidade tem surgido cada vez mais é porque é uma área em que o conhecimento, a formação e a mudança são essenciais e cada vez mais necessários!
Que este programa Super Nanny sirva para nos alertar, fazer refletir e repensar a educação dos mais pequeninos. Aqueles que serão os adultos de amanhã!
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