Lidar com as emoções e geri-las é, por si só, algo com que não nascemos. Esta capacidade para gerir as emoções é desenvolvida ao longo da nossa vida e de acordo com as nossas experiências…e poderá ser uma caminhada longa até para nós adultos.
O mesmo se aplica às crianças com necessidades especiais. Este processo de aprendizagem em gerir as suas emoções poderá ser mesmo desafiante e longo para algumas crianças mas, no entanto, não é impossível.
Será de certo cansativo, não vos minto; por vezes, pensarão em desistir mas encontrarão a satisfação e o valor do vosso esforço quando, espontaneamente, a criança colocar em prática aquilo que aprendeu convosco! Para além disso, lembrem-se que estarão a dar autonomia à vossa criança neste processo, o que lhe permitirá ser capaz de lidar com os desafios do dia-a-dia e estabelecer relações mais positivas e felizes com aqueles que a rodeiam.
Alguns dos principais desafios das crianças com necessidades especiais, nesta aprendizagem da autorregulação emocional, poderão consistir em:
causas intrínsecas: na dificuldade em comunicar, dificuldades na linguagem, em identificar ou nomear emoções, nas dificuldades na empatia para com o outro, a dificuldade em lidar com as suas frustrações, em conseguir “racionalizar” as suas emoções…;
causas extrínsecas: em ouvir o “não” que não é levado avante; as consequências que não são coerentes, o reforço da birra pela atenção, toque ou diálogo insistente nesse momento (para muitas crianças potencia a birra em vez de eliminar), que não permitem à criança procurar acalmar-se mas sim revoltar-se e distrair-se, acabando por não conseguir identificar o que sente, aprender a gerir isso mesmo e a ajustar o seu comportamento.
Estas dificuldades, em casos extremos, poderão manifestar-se sob diferentes formas: birras intensivas, auto-agressividade, agressividade para com os outros, gritos, choro compulsivo, atirar-se para o chão, atirar objetos, desvio do olhar, risos compulsivos, entre tantos outros.
Se é difícil ajudá-las nestes seus “momentos mais difíceis”? É. No entanto, recordem-se sobre o quanto a criança irá ganhar ao aprender a gerir as suas emoções: autonomia, desenvolvimento de competências relacionais, pois desenvolverá simultaneamente a empatia para com o outro, e a flexibilidade cognitiva que lhe permitirá saber lidar melhor com imprevistos ou dificuldades.
Como poderão os pais de crianças com necessidades especiais ajudá-las a gerir as suas emoções?
Tudo começa por se trabalhar a identificação e nomeação das emoções, seguindo-se uma caminhada de aprendizagem sobre como ajustar o comportamento e a expressão do que sentem no seu dia-a-dia.
Para tal, partilho algumas estratégias sobre as quais poderão refletir:
- Ler livros sobre emoções;
- Realizar jogos sobre as emoções como puzzles ou o jogo da mímica com emoções em que a criança poderá identificar a emoções e utilizar a expressão corporal para a traduzir;
- Frente a um espelho trabalhar a imitação de diferentes expressões faciais e nomear a emoção que está a ser refletida;
- No dia-a-dia, identificar emoções nos outros ou em si mesmo para que a criança se familiarize com as emoções como algo comum a todos nós e se pode aprender a gerir;
- Antecipar a criança sobre o que vai acontecer ou o que vai fazer, dando-lhe tempo para digerir as suas emoções relacionadas com esse acontecimento ou atividade;
- Reforçar quando a criança se acalma após um momento “explosivo” devido às suas dificuldades em gerir as suas emoções, verbalizando o que vimos que estaria a sentir e como conseguiu acalmar-se.
- Em alguns casos, principalmente nos casos mais desafiantes, falar ou tocar será reforçar os comportamentos que traduzem a dificuldade em gerir as suas emoções (como birras, agressividade, etc), assim sendo, o melhor é começar por ignorar ou bloquear, em caso de perigo para a criança ou para si, reforçando quando a criança se acalma.
Por fim, lembrem-se:
estas estratégias deverão ser adaptadas e ponderadas antes de colocadas em prática, pois cada criança é uma criança;
a aplicação destas estratégias deverá ser consistente e coerente. Nem todos os frutos poderão ser colhidos a curto período de tempo. É fundamental respeitar o tempo e ritmo de cada criança, para que ao sentir-se segura e confiante, consiga pôr em prática as suas aprendizagens autonomamente.
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