Entrei em Reabilitação Psicomotora. E agora?

“Entrei e agora tenho tantas questões!”

Este é o pensamento comum de todos aqueles que entram no curso de Reabilitação Psicomotora, assim aproveito o dia Europeu da Psicomotricidade (19/9/2017) para escrever para os meus futuros colegas de profissão.
Quando estava em fase de escolher a profissão para a minha vida tinha bem definido que esta teria de ter dois propósitos fundamentais: implicar trabalhar com as dificuldades das pessoas e dar muito de mim aos outros.
Pensei em inúmeros cursos desde enfermagem, psicologia, terapia ocupacional, terapia da fala, educação especial…tudo cursos que, em comum,  procuravam ajudar as pessoas a ultrapassar os seus desafios.
Um dia, numa das inúmeras pesquisas sobre profissões ligadas à saúde e à educação, deparei-me com o curso pelo qual me apaixonei: Reabilitação Psicomotora.

Até pode parecer-vos estranho, exceto para os meus colegas da Psicomotricidade, mas apesar de na altura não perceber exatamente como trabalhava um Psicomotricista sentia que este seria muito mais que um curso profissional, pois seria também um curso que me faria evoluir como pessoa.
Algum tempo depois de entrar no curso tive a confirmação de que era o curso perfeito. Abrangia um pouco de várias áreas profissionais permitindo-me conhecer e trabalhar para o desenvolvimento de outros, ajudando na aquisição de competências pessoais, académicas e tantas outras – perfeito, era mesmo isto!! =)
A esta perceção de que seria seguiram-se inúmeras questões, algumas delas que levaram anos a clarificar no entanto tenho aprendido que basta estarmos atentos e receber de braços abertos todas as experiências, as boas e as menos boas.
Por isso, e tendo em conta que todos os alunos que entraram este ano em Reabilitação Psicomotora estarão  certamente rodeados de questões (algumas delas por descobrir em breve) deixo algumas recomendações aos meus futuros colegas para a procura das suas próprias respostas:

  • conheçam a teoria mas procurem sempre a prática: é importante dominarmos os conceitos, as teorias por detrás do desenvolvimento, dos comportamentos, do processo de aprendizagem mas é ainda mais importante deparar-nos com tudo isso pelas nossas próprias experiências. Muitas vezes (atrevo-me a dizer na maioria) será pela prática que irão perceber a teoria e, possivelmente, aprender muito mais do que a própria teoria. Na teoria não se aprende a criar uma relação de confiança e de proximidade, não se aprende a decifrar todos os comportamentosdificuldades  ou frustrações que as pessoas vos trarão, não se aprende a ler a tristeza pelos olhos de alguém,  não se aprende o valor de um “eu consegui” ou um “obrigada” de quem acompanhamos,  não aprendemos a fazer a pessoa acreditar que é capaz..isto só na prática e com o amor “à camisola”;
  • procurem diferentes perspetivas sobre uma mesma problemática e tenham pensamento crítico sobre cada uma delas, lembrando-se de que todas as perspetivas têm contributos importantes;
  • acreditem no valor da Reabilitação Psicomotora é um mundo que o que tem de complexo tem de rico. Implica lidar com birras, com frustrações, com comportamentos desajustados e até desadequados, com inúmeros desafios para ajudar a pessoa a ultrapassar as suas dificuldades, repetir a mesma coisa por vezes dias a fio, mas tudo isso vale a pena quando se atinge o objetivo. Acreditem que se sentirão uma pessoa mais rica;
  • façam voluntariado, estágios de verão, colónias de férias, entre outros: serão certamente experiências para a vida, para o bom e para o menos bom. Nestas experiências encontrarão muitas respostas sobre a área que querem seguir, as abordagens com as quais concordam ou não, a população com que querem trabalhar, o quão fundamental é o trabalho em equipa, o que podem melhorar como profissional ou mesmo como pessoa. São experiências onde aprendemos que um “obrigada”, um abraço ou um sorriso são das coisas mais gratificantes da vida

Então e as respostas sobre Reabilitação Psicomotora??

Não vos dou respostas diretas às vossas questões mas sim dicas para lá chegarem, e agora perguntam-me: Porquê?
Porque (tal como as crianças, adultos e idosos com quem irão trabalhar) só irão ultrapassar as vossas dificuldades e encontrar as vossas respostas através das vivências que abraçarem no mundo da Reabilitação Psicomotora. Nem tudo será fácil, mas se estiverem de coração à larga, valerá a pena!…por isso, agora, vivenciem MUITO!

p.s. não se esqueçam de darem o primeiro passo como futuros Psicomotricistas e registem-se na Associação Portuguesa de Psicomotricidade.

 

About the author

Psicomotricista, apaixonada por conhecer e partilhar. Autora do blog 'Mais q'Especial'.
2 Responses
  1. Enquanto atual aluna do 2º ano do curso de Reabilitação Psicomotora sinto que exatamente a mesma coisa que tu em relação à evolução enquanto pessoa.
    Existem cursos em que tu podes ser uma péssima pessoa e um excelente profissional, mas na psicomotricidade é muito difícil que isso aconteça, porque, mais do que o saber teórico e o saber fazer, a psicomotricidade baseia-se no saber SER. Obrigada pelo texto. Felicidades

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Beatriz Pereira

Psicomotricista, apaixonada por conhecer e partilhar. Autora do blog ‘Mais q’Especial’.